domingo, 5 de junho de 2011

Sobre Patrimônios Imateriais...



Sotaque da Mooca, jeito simplório de um mineiro, a ginga de um carioca, a musicalidade de um baiano. São modos singulares e únicos de se ser, de viver e que demonstram a diversidade bem-vinda de brasileiros. De repente, pela fragilidade de nossa memória e história, tornam-se “patrimônios imateriais”de nossa cultura. Uma maneira de preservar tais singularidades, um modo de apontar o quanto esses elementos são importantes para o nosso conteúdo e identidade culturais. Declarados patrimônios imateriais como cerca que tenta proteger a investida de modos globais de viver, destituindo o “único” que nos habita como brasileiros que somos. Não concebo, porém que estas declarações e decisões de uma política cultural, garantam a legitimidade dessas singularidades. O que legitima modos de ser, é o espaço conquistado, o espaço social garantidor desses modos de ser e de viver. Que a pasteurização fique longe, que os modismos não subtraiam as manifestações que singularizam um povo. Mais que patrimônios imateriais, são elementos constituintes de uma identidade que se conserva e se atualiza pelas ruas, pelos campos, pelos lugares de convivência entre diferentes.Isto é Brasil,uai sô!


Bombeiros e professores, vozes que não se ouvem, ofícios imprescindíveis. Como imaginar, aos modos de Ivan Illich, uma sociedade sem escolas e espaços urbanos sem o serviço dos bombeiros? Como conceber uma sociedade onde inexistem professores e bombeiros?Ambos, em suas especificidades, são importantes na medida em que traduzem um sentido de segurança às pessoas, de alguma certeza de que ainda é possível a convivência e a sobrevivência num mundo tão sedento de sentidos. Professores e bombeiros carregam consigo o símbolo do cuidado, da aposta na vida humana, no amparo às pessoas. Corpos que são salvos de dores, de aniquilamento. Almas que evitam o resfriado pelo cultivo de saberes. Profissões que deviam ser reverenciadas por qualquer dirigente, valorizadas e respeitadas pela diferença que fazem no bem-viver comunitário. No entanto, cenários atuais(ou de sempre) apontam o descaso e um tratamento ignóbil a estes dois segmentos preciosos de nossa sociedade.
Algo está de cabeça prá baixo, algo está fora de lugar. Será nosso juízo? Será a inversão de valores que esfrega estranhamentos em nós? Serão o exercício de poder e as picuinhas políticas que encobrem posturas ainda ditatoriais no país?
Como professora e como cidadã registro aqui minha indignação à forma como a sociedade(e somos todos nós!) (des)cuida de profissionais raros, imprescindíveis. Profissionais que merecem um salário suficiente para continuarem sua missão de segurança e amparo aos milhões de outros cidadãos. Que sejam respeitados, que sejam ouvidos, que sejam valorizados!

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