sábado, 4 de junho de 2011

PARA ALÉM DE UM GRUPO DE PESQUISA...UM ESPAÇO DE AFETO



Seria esperado que este texto retratasse a dinâmica de um grupo de pesquisa, a construção cuidadosa dos caminhos de uma investigação feita de maneira coletiva e democrática. Entretanto, sobre esse movimento investigativo, dialógico e coletivo artigos já foram publicados, elementos evidenciados e devidamente compartilhados em espaços formais de periódicos na área da educação.
Aqui, a proposta é refletir e registrar acerca de um grupo que se constitui afetivamente e preenche seus espaços de entre-pesquisas, em espaços de encontro com o outro. Palavras não apenas usadas para referenciar idéias, mas palavras que carregam o significado das pessoas, de suas histórias, de sua caminhada ao longo de tantos anos de trabalho em conjunto.
Por isso, ao pensar nesse grupo, esse texto se propõe a apresentar o intangível de sua produção nesses anos de pesquisa. Desde 2005, um grupo foi se formando com o objetivo de investigar , sob a batuta de Mere Abramowicz , questões atuais de currículo, tendo como foco as políticas públicas. Educadores, estudiosos e fazedores de educação, homens e mulheres que tem na PUC de SP o espaço de continuar seu vínculo, fortalecer seus saberes e demonstrar sua fecundidade teórica sobre currículo. São mestrandos, doutorandos e doutores que se reúnem mensalmente, mas que se articulam todo o tempo por meio de email de grupo para agilizar produção, conferir dados, compartilhar resultados parciais de pesquisa e para também, se desvelarem ultrapassando as próprias pesquisas em andamento. Eis o intangível, o que ultrapassa as formas da academia e do rigor epistemológico. O rigor que se construiu nesse grupo relaciona-se com o amparo e cuidado que todos têm com todos. O rigor das relações trabalhadas, dos afetos de bem-querência que surgem nas dificuldades, nas dores, nas perdas que ocorrem no decorrer dessas vidas tão singulares e diferentes, mas tão próximas na amorosidade e no respeito.
Um grupo constituído por pessoas que trabalham, pensam e vivem a Educação e, por isso, revestem seus contatos, seus recados, seus abraços e seus sorrisos em vestimentas de educadores. Porque, a cada email enviado, há um retorno efetivo de um, dois ou de todos os outros membros do grupo, respondendo, acarinhando, amparando a angústia, subvertendo a dor que se apresenta, respaldando incertezas, sorrindo com os sucessos de tantos. Há o mais tímido, o mais calado, mas mesmo esses, pelo silêncio, mostram a atenção e a cumplicidade. Há os que respondem , às vezes, tardiamente, e demonstram que mesmo assim, estão atentos ao grupo. Há os que são econômicos nas palavras, mas estas vêm fortes e precisas a quem se dirigem. Há os que poetizam o viver e tornam nosso e-group um espaço de beleza infinda. Há os que notificam suas dificuldades,traduzem momentos trágicos e nos alegram quando retornam inteiros e esperançados. Há os que, algumas vezes, se sentem invisíveis, e ao se sentir assim, se deixam dizer sobre essa sensação porque sabem que serão aceitos até em seus ímpetos de carência e de pedidos de socorro. Claro, deve haver algumas antipatias não ditas.Mas, até elas se relativizam diante do cotidiano da pesquisa e do movimento constante do grupo. Pois é, este grupo é assim.
Um grupo registrado no Cnpq, que muito produz. Artigos, livros, trabalhos em anais nacionais e internacionais, capítulos de livros. Porém, um grupo que vai além da lógica atual da pesquisa no país. E, exatamente por ir além dessa lógica produtivista dos órgãos governamentais, mantém sua vitalidade acadêmica. Ousadia dizer(e já ousando porque o grupo respaldará isso!) que o que sustenta o grupo ao longo desses anos não é o interesse pela pesquisa, mas o interesse pelas pessoas. Porque somos educadores, porque precisamos ser melhores para sempre melhorarmos nossas práticas educativas. E estar nesse grupo é um exercício permanente de aprender a ser melhor. Melhor na palavra escolhida, melhor na maneira de ouvir e dizer, melhor na delicadeza dos encontros de idéias nem sempre iguais, nem sempre as mesmas. Exercício de um estar-com, riqueza da oportunidade que as diferenças nos permitem reconhecer realidades diversas, de Estados e Municípios outros e que demonstram a complexidade do educar e dos desdobramentos que tais cenários trazem para a pesquisa. Pois é, este grupo é assim. Grande, amorosamente talhado na maneira de ser e de fazer educação de sua líder, que como educadora, nos acolhe e nos sustenta. Num movimento sutil, vamos aprendendo também a acolher e sustentar idéias e principalmente, pessoas. Pois é, este grupo é assim.

terça-feira, 31 de maio de 2011



Continuando o assunto... pensando em termos de currículo, o que os alunos apreendem e aprendem ao perceberem seus professores alijados do cardápio da escola? Como vêem o professor que não pode se sentar junto com eles, partilhar a comida, repartir o pão? Será que olham o mundo cindido e percebem que há desigualdade até na escola? Lugar de aprender, lugar de abertura de novas janelas, qual a paisagem que é apresentada aos alunos? Lugar de exclusão de professor? Escola feita de alunos com professores como meros coadjuvantes? Que mundo escolar está sendo construído? Há nessa proibição uma violência silenciosa que fere profundamente o que ainda talvez reste ao professor de alguma certeza de seu papel, de sua importância e responsabilidade na formação das novas gerações.
O que efetivamente está implicado nesse absurdo? Discursos que não traduzem as práticas de gestão. Escola como um não-lugar de professor. Alimentos para uns. Corpos negados. Mesquinharia e ignorância. Não reconheço a escola que me foi apresentada nessa conversa de professor. Desejaria que fosse mera história, completo engano. Gostaria que não fosse verdade, que me dissessem que é pegadinha, que os professores fazem suas refeições junto aos seus alunos, que o Estado garante esse direito aos seus tão mal-remunerados profissionais da educação. Que me acordem desse pesadelo, por favor!!!!

Dignidade aos professores!!!



Conversas de professor. Não apenas compartilhando-as na rádio, mas garantindo-as nas aulas. E foi num desses bons papos, muitas vezes, por meio de teóricos que pensam a educação e o currículo, que um cenário se apresentou. Aos poucos foi sendo desenhado, tomando corpo e indignação em mim. Como é possível as escolas proibirem seus professores de fazer suas refeições na própria escola? Que lógica é esta que desconsidera, nega corpo, saúde e necessidade de alimento dos professores? Que lógica é esta que despreza a presença do professor como parte e sujeito do processo educativo? Como exigir competência, compromisso e práticas decentes dos professores, se eles se percebem não-sujeitos da rotina de refeição da escola? Em algumas escolas, nem esquentar suas marmitas pode o professor. O que se desvela deste cenário? Afastemos as cortinas! Há nisso uma mensagem. Como um quadro de recados, o que se avista é “o que importa aqui é garantir alimentos para os alunos e só existe verba para eles. Os professores, coadjuvantes, não podem ser contabilizados nesse gasto em alimentação”. Junto a essa mensagem, podemos vislumbrar equívocos que colaboram com a desvalorização do magistério, com o desrespeito pelos professores apregoado em notícias diárias. Se nem em seu locus de trabalho o professor se percebe e se sente dignificado e cuidado, o que dizer ou esperar em termos de outros alimentos, menos palpáveis, intangíveis que preenchem a alma dos que ensinam?
Não adianta jingle em televisão clamando pelo valor e importância do professor, se as políticas públicas de gestão educacional não atentarem para o necessário cuidado para com os profissionais que garantem o funcionamento de suas escolas. Dignidade aos professores é o que devemos exigir!

Bem-vindo...