sábado, 16 de julho de 2011

Ninguém sabe o tamanho da vida...II


E nem eu sei onde prá onde caminha o meu pensar. Por isso, apenas me deixo ir. Pensando ainda sobre a vida e seu tamanho. Sobre a pequenez que muitas vezes fazemos do viver, a estreiteza que as opções marcam esse baú feito de vida. Tamanhos minúsculos de um viver de labuta, de dores, de medos e de enganos. Tamanhos médios de vidas médias, cotidianas, feitas de trabalho e de algum prazer. Tamanhos imensos, de vidas intensas, de ar que falta numa imensidão de sentidos. Baús enormes, esbanjando alegrias; baús tão grandes quanto, derramando dores. Baús um pouco menores que carregam obrigações, que desperdiçam coragem e outros, menores, tímidos, compactos de medos.

O vida define o seu tamanho, aos poucos, pelas experiências, pela forma que inventamos de “estar-junto-com “ . Crianças modelam o que será o tamanho da vida, ajeitam com argila de exploração, com as possibilidades de mundo, com a amorosidade recebida que determina os arranjos de seu baú. Jovens redimensionam esse espaço, supervalorizam os lugares ainda vazios e acumulam desejos de ser, desejos de estar. Os adultos voltam a redimensionar o seu baú, escolhendo e re-escolhendo o seu percurso, investindo no instituído,buscando algum tipo de re-conhecimento deste estado de viver. Os velhos, ahhh, os velhos...Um baú gasto, vazios que se preenchem de lembranças, cantos desapegados de matéria. De longe, parece que o seu tamanho diminui, de perto, um baú expandido, feito de pedra e de água. Que se remodela permanentemente, que se cristaliza em seu entorno. Tesouro de sentidos, riqueza de detalhes, raridades nem sempre visíveis lá ficam em suas rugas, em seus passos lentos, em seus ouvidos seletivos.

O tamanho da vida? Sem régua, sem dimensão única.Tamanho impreciso.

“Ninguém sabe o tamanho da vida”


Foi assim que uma amiga terminou uma pequena mensagem para mim. Pois é, que tamanho tem a vida? Em termos de cronos, a vida tem uma duração, um limite e pode-se calcular a média desse viver cronológico. Mas, a vida, preenchida de Kairós, é misteriosa e por isso, instigante. Qual a dimensão do viver, qual o alcance dos encontros e das perdas? Qual o sentido da saudade e da paixão?Por quantas vezes pessoas passarão pelas nossas vidas? Há lugar para todas elas nesse caminho de vida? Das lembranças que ficam, há lembranças maiores ou menores?Dores mais fundas e dores equivocadas?

O tamanho da vida depende do lugar da morte nela. Da morte que espreita e que está a cada virada de esquina que damos. A morte que regula essa vida em tamanho.

Gosto de pensar a vida como um baú, aberto, escancarado que nos é oferecido para ali depositarmos nossas angústias, guardarmos nossos amores mais sensíveis, revirar reencontros, esconder desejos. Esse baú, tão sempre cheio de vazios a serem ocupados, de sonhos a serem realizados, de momentos para serem ainda vividos. Qual o tamanho do baú?Qual o tamanho da vida? Que fundo tem essa vida-baú que tudo cabe, que muito se perde, que algo se guarda com especial cuidado?

Fecho os olhos e penso nesse baú que está em mim...como o deserto está em Guimarães Rosa. Vislumbro-o revirado, desorganizado, avesso às gavetas e aos dispositivos organizadores. Mexo e remexo nele procurando o que não sei, deixando escapar o que me seria útil, mas pouco prazeroso. Vou nele para me reabastecer de....vida. Vida-baú que de tão aberta, torna-se inescapável a mim. Sim, há cantos meio escuros, outros pontos sem centro que me fazem ir por onde quero ou vou à esmo, tateando lugares, revendo espaços des-ocupados. O seu fundo inatingível, as perguntas que não serão respondidas...à espera de seu fechamento. Que não feche, que fique, que se embaralhe cada vez mais e que o colorido predomine sob o cinza de alguns dias. E assim, alma acolhida e refeita, meu baú vai aumentando...que tamanho tem a vida?

domingo, 10 de julho de 2011

O peso de ser ficção...


James Ellroy , João Ubaldo Ribeiro e outros...desconversam sobre literatura, e exibem sobre o seu modo de ser, de viver e se esforçam para se mostrarem excepcionais, com idéias loucas e pouco usuais, como se isso os fizesse especiais.Não, escrever bom texto, apresentar tramas bem armadas, fazer bom uso das palavras não podem ser suficientes para autorizar escritores a se mostrarem tão desdenhosos com a própria literatura e tão generosos consigo mesmos, principalmente quando se esforçam com uma disfarçada displicência. Melhor eles se apresentarem para nós apenas por meio do que escrevem....e que cada leitor construa a imagem do escritor que nos apraz. Que o feio, o arrogante, o covarde e o sarcástico que existem neles, fiquem ali, escondidos, esquecidos. Que deixem para nós a sua Literatura apenas. E que a Flip não se resuma a cultos personalísticos, mas à discussão e cultivo de idéias e de conceitos.Flip como espaço do sensivelmente compartilhado, mais do que lugar de exibicionismos que empobrecem e rasuram a Literatura. Não quero ouvir e nem ver meus autores preferidos. Melhor degustá-los pelas palavras que escrevem e pelos sentidos que eu, como leitora, deposito nelas.

Bem-vindo...